Metodologia do FSM
Por Moacir Gadotti
Revista Fórum
O quinto encontro do Fórum Social Mundial de Porto Alegre (2005) deu um salto de qualidade, inovando na sua metodologia, inspirada no Fórum realizado no ano anterior em Mumbai (Índia). Se a criação do FSM foi o acontecimento político mais importante do ano 2000, a nova metodologia de construção de seus eventos foi o acontecimento político-ideológico mais importante de 2004.
Foram evitadas as grandes conferências organizadas pelo Conselho Internacional que davam mais visibilidade a “grandes nomes” e foram valorizadas as atividades menores, aglutinadas por tema, para evitar a dispersão e facilitar o encontro e a unidade.
No FSM 2005 criou-se o “Território Social Mundial”, com práticas solidárias e sustentáveis, com uma metodologia que fortalece o diálogo, com tradução voluntária, software livre, economia solidária, transporte alternativo, consumo ético etc. O importante é tentar viver, desde já, esse outro mundo possível. Dar exemplo.
O Conselho Internacional tem insistido na metodologia do Fórum, na ética, nas decisões por consenso, evitando, a todo o custo, cair na cilada da disputa pelo controle do processo do FSM. Estaríamos repetindo os métodos políticos que condenamos. O testemunho pessoal não é uma coisa piegas; o exemplo, o comportamento pessoal ético é uma condição necessária para o êxito do FSM. O “outro mundo possível” deve ser construído em cada um de nós e de nossas organizações desde já, aprendendo coisas novas e desaprendendo velhos hábitos.
A primeira condição é aprender a se expressar sem subterfúgios, sem preconceitos, sem falsidade, na transparência da verdade, sem visar o poder, sem manipular, sem querer “ganhar o jogo”. O FSM não é um jogo no qual alguns ganham e outros perdem. Todos precisam ganhar.
O FSM, com sua nova forma de funcionamento autogestionado, é um exemplo desse outro mundo possível, de como deve ser uma sociedade onde todos caibam, onde ninguém é excluído. Porque o velho mundo é um mundo de exclusão. Queremos deixar para trás o mundo da prepotência, da arrogância dos que tudo sabem e, por isso, tudo querem ensinar. O outro mundo possível é um mundo de aprendizagem em rede. O nosso mundo possível é um mundo onde todos podem perguntar, ensinar e aprender.
A metodologia da auto-aglutinação utilizada no FSM 2005 não foi ainda implementada em toda a sua potencialidade. Um passo adiante precisa ser dado. Ela não é só uma metodologia para a definição conjunta de pautas para os eventos do Fórum. Ela precisa ser implementada também no processo do Fórum porque evita o dirigismo e a hierarquização das lutas. Ela parte do princípio da não existência de um sujeito político privilegiado na luta pela transformação social. Todas as iniciativas são importantes. Por isso, o FSM precisa estimular a auto-aglutinação na construção de seu processo de transformação. O princípio da auto-aglutinação não desvaloriza lutas supostamente irrelevantes, porque a diversidade é um dos pilares da Carta de Princípios do FSM. Ninguém decide em nome de outros o que é mais relevante e o que é menos relevante. Essa metodologia refere-se tanto aos eventos quanto ao processo do FSM, ambos intimamente interligados.
No próximo número, trataremos do FSM como ator político novo.
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