IRÃ, ANO 2000: A NOVA REVOLUÇÃO

O voto popular nas eleições legislativas de 18 de fevereiro de 2000 no Irã, refletiu o desejo de mudanças num país, que há 21 anos realizava uma revolução de caráter anti-imperialista e com um forte componente religioso. Uma revolução, que se por um lado, representou a vitória de diversas correntes da sociedade contra uma ditadura monárquica manipulada pelos EUA, por outro lado, levou o país a adoção de um verdadeiro Estado teocrático, caracterizado por uma República Islâmica.
Nessas últimas eleições parlamentares 70% dos deputados eleitos estão alinhados com a ala moderada e reformista do presidente Mohammed Khatami, ele próprio, eleito Presidente da República nas eleições de 1997 contra os ultraconservadores, quando obteve mais de 70% dos votos, com grande apoio de mulheres e jovens. Os jovens no Irã cada vez mais assumem um papel importante para as reformas do país, já que 60% da população tem menos de 25 anos de idade.
MOHAMMED KHATAMI

Apesar de ser filho de um famoso aiatolá e usar o turbante preto daqueles que acreditam ser descendentes diretos do profeta Maomé, Khatami sempre representou politicamente uma linha mais progressista, mostrando que é perfeitamente possível conciliar os preceitos humanistas do Islamismo com uma sociedade mais livre.
Alguns avanços nesse sentido já ocorriam desde 1992 quando Khatami então Ministro da Cultura, reduziu a censura literária e permitiu debates públicos sobre os mais variados temas. Um destaque que vale a pena ser lembrado nesse contexto, é a produção das belíssimas obras do cineasta iraniano Abbas Kiorostami diretor, dentre outras das célebres "Através das Oliveiras" e "Gosto de Cereja", esse último, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1997.
Neste final de século percebe-se a busca cada vez maior do jovem iraniano por igualdade de direitos, onde a lei civil tenha supremacia sobre a religiosa. Isso parece ir ao encontro da abertura promovida por Khatami, que defende a supremacia da vontade popular expressa pelo voto, em relação a opinião do clero iraniano.
Trata-se de uma tarefa nada fácil, já que se acredita na possibilidade de devolver o poder político ao povo sem abdicar contudo, dos princípios islâmicos.
PÉRSIA, O PASSADO DISTANTE
A Pérsia, atual Irã, foi habitada por povos arianos (medos e persas) desde o século IX a. C. Em 539 a. C., Ciro, líder dos persas, tornou-se rei dos dois povos, iniciando a Dinastia Aquemênida (de Aquemênides, antepassado de Ciro), que estendeu seus domínios por uma vasta região do Oriente Médio, formando o maior império da Antiguidade Oriental, abrangendo áreas do Indo ao Mediterrâneo e do Cáucaso ao Índico.
Outras conquistas como o Egito e a Líbia ocorrem durante o reinado de Cambises II, que sucedeu a Ciro em 529 a. C. No reinado seguinte, Dario tentou dominar a Grécia, mas fracassou, sendo derrotado na famosa Batalha de Maratona em 490 a. C.
O Império Persa chegou ao fim em 331 a. C., quando Dario III foi derrotado por Alexandre Magno na Batalha de Arbelas.
O IRÃ ISLÂMICO
Os árabes axemitas (dinastia da família de Maomé), conquistaram o Irã em meados do século VII, quando o califa Omar transformou o Estado nacional árabe num Império teocrático mundial. O Irã contudo, demorou algum tempo até que o Islamismo fosse adotado, sendo que somente a dinastia posterior, a dos Omíadas, efetivou a islamização da região. A passagem para dinastia dos Abássidas foi apoiada pelos iranianos, que se beneficiaram com o deslocamento do centro do Império de Damasco na Síria, para Bagdá no Iraque, vizinho do Irã.
No início do século XVI a região vive o crescimento do xiismo, quando Ismail (xeque safavida) proclamou-se rei conseguindo em 1510 conquistar quase todo o Irã, além de transformar o xiismo em religião do Estado persa, em oposição ao Império Otomano, defensor do sunismo. Com a dinastia dos safavidas, o Irã libertou seu território nacional, ocupado pelos usbeques no oriente e pelos otomanos no ocidente.