Os 18 do Forte
INTRODUÇÃO
A Revolta do Forte de Copacabana, em 1922, foi o primeiro movimento militar armado, que pretendeu tirar do poder as elites tradicionais e esboçou a defesa de princípios modernizadores, refletindo o descontentamento com a organização política e econômica da época e características peculiares da formação do exército brasileiro.

O Forte de Copacabana
A SITUAÇÃO DO PAÍS
No começo do século XX, o crescimento das cidades acentuo-se, destacando-se o Rio de Janeiro (capital do país) e São Paulo, esta última, devido ao desenvolvimento da economia cafeeira. A vida urbana passou a se definir por novos padrões de consumo, grandes avenidas foram abertas, assim como cinemas, teatros e grandes edifícios. Parte desta "modernização" estava associada diretamente ao capital inglês, investido na infra-estrutura: fornecimento de energia elétrica, serviço de transporte coletivo, água encanada e gás. Parte dos investimentos eram possíveis devido ao lucro proporcionado pela exportação de café. No entanto, essa modernização não alcançava as camadas populares, formada principalmente por operários, artesãos e desempregados, cerca de 70% da população, que vivia em situação precária.
A camada média e a classe operaria sofriam com a carestia, conseqüência da "política de valorização do café", responsável pela desvalorização da moeda nacional para facilitar as exportações, assegurando os lucros do setor cafeeiro. A queda nas exportações de café levou o governo a constantes desvalorizações e conseqüente aumento do custo de vida. Das camadas urbanas, apenas a classe operária possuía algum grau de organização política e sindical. Na década de 10, as greves haviam agitado as grandes cidades do país. No entanto, havia entre as camadas médias intenso descontentamento com a situação econômica e política, favorável a elite do café de São Paulo e Minas Gerais.
As elites regionais esboçaram um descontentamento nas eleições de 1921, quando, quando gaúchos, cariocas, baianos e pernambucanos lançaram a candidatura de Nilo Peçanha à presidência da República. No entanto, esse movimento manteve-se em nível institucional, ou seja, esses grupos aceitaram a vitória do candidato do oficial, não contestando a ordem política, caracterizada pela manipulação e pela fraude. O controle da máquina estatal manteve as elites tradicionais no poder com a vitória de Artur Bernardes, e as elites regionais acomodaram-se.

Presidente Artur Bernardes
1922
O ano de 22 foi um marco na contestação do regime oligárquico. Diversas manifestações surgiram, principalmente nas grandes cidades. Neste ano foi fundado o Partido Comunista, inspirado na Revolução Russa, congregou alguns setores de intelectuais e trabalhadores, porém de forma muito tímida; desenvolveu-se ainda a Semana de Arte Moderna em São Paulo, evento de grande repercussão, por contestar os padrões culturais e estéticos predominantes, defendiam o desenvolvimento de uma arte genuinamente brasileira, condenando o falso moralismo existente na sociedade da época. Denunciavam o coronelismo e o voto de cabresto, que caracterizavam a vida política brasileira.
O TENENTISMO
O "movimento tenentista" foi a oposição mais direta ao sistema oligárquico. Pela primeira vez ocorria um movimento armado contra o governo das oligarquias, dominado pelos interesses dos grandes produtores e exportadores de café, que haviam criado uma estrutura política viciada, baseada no coronelismo e no controle sobre os "currais eleitorais".
O Tenentismo foi um movimento organizado a partir do setor intermediário do exército, que angariou a simpatia da baixa oficialidade e, em parte, refletia a situação de marginalização política da classe média e certas peculiaridades do "espírito" militar, fortemente influenciado pela ideologia positivista, expresso no ideal de salvação nacional. Os tenentes defendiam reformas políticas moralizadoras no país, com a adoção do voto secreto, a criação de uma justiça eleitoral, e um projeto industrializante com a participação do Estado.
Esse "espírito de corpo" percebido nos discursos dos tenentes, que se consideravam os únicos capazes da salvar a República das mãos das elites atrasadas, fez com que o movimento ficasse isolado do restante da sociedade; foi desprezado pelas oligarquias regionais, pelos camponeses e pelas camadas urbanas, Nesse sentido, o movimento pode ser considerado como elitizado, pois caberia apenas a esse grupo a transformação do país.
OS 18 DO FORTE
Dos diversos acontecimentos que marcaram o ano de 1922, o mais famoso ocorreu no Rio de Janeiro, tendo o dia 5 de julho como o ápice do movimento conhecido como "Os 18 do Forte".
Havia no interior do exército forte disposição contra a posse do presidente eleito Artur Bernardes, representante das elites tradicionais, criticado pelos militares. Dois episódios haviam agravado as tensões mesmo antes da eleição: a prisão do Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente do Clube Militar, e as "cartas falsas" que teriam sido escritas pelo candidato à presidência Artur Bernardes e endereçadas ao político mineiro e Ministro da Marinha, Dr. Raul Soares - publicadas na imprensa, criticando os militares.
O Forte de Copacabana se revolta no dia 2 de julho. Era comandante do Forte o Capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do Marechal.
O movimento, que deveria se estender para outras unidades militares, acabou se restringindo ao Forte de Copacabana. Apesar das críticas realizadas, a alta oficialidade manteve-se fiel a "ordem" e não aderiu ao movimento, que acabou abortado nas outras guarnições.

Durante toda manhã do dia 5 o Forte de Copacabana sustentou fogo cerrado. Diversas casas foram atingidas na trajetória dos tiros até os alvos distantes, matando dezenas de pessoas. Eram 301 revolucionários - oficiais e civis voluntários - enfrentando as forças legalistas, representadas pelos batalhões do I Exército. A certa altura dos acontecimentos, Euclides Hermes e Siqueira Campos sugeriram que os que quisessem, abandonassem o forte: restaram 29 combatentes. Por estarem acuados, o Capitão Euclides Hermes saiu da fortaleza para negociar e acabou preso. Os 28 que permaneceram, decidiram então "resistir até a morte", A Bandeira do Forte é arriada e rasgada em 28 pedaços, partindo depois em marcha pela Avenida Atlântica rumo ao Leme. Durante os tiroteios, dez deles dispersaram pelo meio do caminho e os tais 18 passaram a integrar o pelotão suicida. Após a morte de um cabo, ainda no asfalto com uma bala nas costas, os demais saltaram para a praia, onde aconteceram os últimos choques. A despeito dos que tombaram mortos na areia, os remanescentes continuaram seguindo em frente. Os únicos sobreviventes foram Siqueira Campos e Eduardo Gomes, embora tivessem ficado bastante feridos.