Torre de Pisa: A Recuperação da História
INTRODUÇÃO
Pouco durou a alegria dos italianos e dos apreciadores da arte em geral, quando no dia 17 de junho de 2000 a Torre de Pisa voltou a ser reaberta para visitação. Foi a primeira vez, desde 1990 que um grupo de pessoas, cerca de cem estudantes universitários, teve autorização para escalar os 294 degraus que separam a base, da cúpula do famoso campanário inclinado, que junto com a catedral e o cemitério compreende o complexo arquitetônico da "Escola Toscana". A frustração veio no dia seguinte, quando a torre circular de mármore voltou a ser interditada, devendo ser liberada para o turismo somente dentro de um ano. Até lá, se espera que a inclinação diminua mais 30 centímetros.
O investimento de US$27 milhões para diminuir a inclinação do prédio, não produziu o efeito desejado. Desde 1990, início da última restauração, quando o desvio assustou o mundo todo atingindo 4 metros, foram reduzidos apenas 14 centímetros, o suficiente para salvar o monumento da destruição, mas não de uma nova interdição.
UM POUCO DE HISTÓRIA
A cidade de Pisa, que já era um razoável centro comercial durante a antiguidade romana, assegurou seu desenvolvimento com o comércio no Mediterrâneo ao derrotar os sarracenos no século XI. Durante as Cruzadas estabeleceu pontos de apoio no Oriente Próximo com entrepostos comerciais em Antióquia e Constantinopla.
Após seu apogeu comercial e cultural nas primeiras décadas do século XIII, Pisa iniciou um processo de decadência em razão de diversos fatores, como a quase falência de seu porto, que não conseguiu concorrer com outros vizinhos, além de lutas internas, das quais se aproveitaram outras repúblicas marítimas rivais como Lucca, Gênova e Florença. Derrotada por Gênova, Pisa não conseguiu se recuperar, sendo anexada ao domínio florentino no início do século XV. Gradualmente foi perdendo sua importância comercial para Livorno entre os séculos XVI e XVII, sendo posteriormente (1815), anexada ao grão-ducado de Toscana, integrando-se ao reino da Itália desde 1860.
A INCLINAÇÃO DA TORRE
A praça dos Milagres, onde a Torre de Pisa começou a ser construída no século XII, é um local afastado do centro da cidade antiga. A praça abriga a torre inclinada e outros belíssimos monumentos decorados com arcadas vedadas ou abertas, características do estilo pisano. A torre foi erguida entre 1173 e o final do século XIII, sobre um solo instável chamado Campo dos Milagres. Os problemas referentes à instabilidade do solo não demoraram a aparecer, quando já na terceira laje a construção precisou ser interrompida porque as fundações entortaram levemente para o norte. Não bastasse isso, logo depois, penderam para o sul. O problema tentou ser corrigido com a utilização de pedras mais longas no lado sul, o que resultou num edifício levemente curvo, como uma banana. Com mais esse problema, as paredes da cúpula, chamada de Torre do Sino, tiveram que ser aparadas para que o teto ficasse regular.
Apesar do árduo trabalho de engenheiros e arquitetos, no sentido de estacionar ou pelo menos reduzir o problema, a inclinação prosseguiu com uma média de 1,2 milímetros por ano. A situação ficou extremamente delicada em meados do século XIX, quando foram feitas escavações ao redor da torre em busca da base da coluna. Em poucos dias o ângulo aumentou quase um grau. No início dos anos 30 o ditador fascista Benito Mussolini prometeu que a torre voltaria a ser reta, fazendo de sua recuperação um de seus trunfos nacionalistas. Foram injetadas quase cem toneladas de argamassa no solo e o que se viu foi uma inclinação ainda maior.
NA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX
Em 1989, quando desmoronou uma torre medieval na cidade de Pavia, também construída em solo esponjoso, o governo italiano preocupado com Pisa, realizou um estudo mais minucioso sobre os possíveis riscos da torre e chegou a conclusão que a mesma tombaria em no máximo 20 anos. A torre inclinada foi interditada e uma equipe internacional de especialistas decidiu em caráter emergencial, instalar contrapesos de concreto na face norte e amarrá-la com cabos de aço.
Em 1995 a torre inclinou 2,5 milímetros em uma só noite. Com auxílio de computadores foram realizadas simulações que apontariam para o que seria a solução definitiva. Ao invés de introduzir argamassa no lado sul como fizera Mussolini, seria extraída terra do lado norte, para que a torre afundasse desigualmente visando a redução do ângulo. Parece que essas medidas caminham no sentido correto e a remoção de terra vai prosseguir. Apesar dos cabos de aço permanecerem atados ao mármore, os contrapesos já começaram a ser removidos desde 1999. A intenção, que parece um sonho é de um dia a torre se estabilizar verticalmente sem inclinação. Certamente será um marco na história, tão importante ou até mais do que o dia em que a torre foi concluída na Idade Média.