A falsa medida do homem

TÍTULO: A FALSA MEDIDA DO HOMEM
AUTORES: Sthephen Jay Gould
EDITORA: Martins Fontes
Neste livro Gould analisa o determinismo biológico, ou seja, a biologia e seus métodos, tais como a craniometria e o quociente de inteligência, usados para corroborar tanto a idéia de hierarquização das raças humanas, bem como, certas teorias racistas relacionadas a superioridade do homem branco ocidental. O autor nos dá uma visão histórica desde meados do século XIX, e de como estes métodos muitas vezes foram utilizados de maneira tendenciosa, daí o título, "A Falsa Medida do Homem".
Gould mostra, primeiramente, como esta visão, de certa maneira, já estava enraizada na mentalidade ocidental, principalmente nas classes detentoras do poder, desde a antigüidade grega, originando-se, talvez, de um contexto político. Em seguida ele nos fala sobre a poligenia, ou seja, a idéia de que as "raças" humanas tiveram origens diferentes e de seu principal método, a craniometria; num contexto histórico anterior a Darwin. Dentre outros pesquisadores, o autor releva o nome de George Morton, cujos trabalhos visavam a hierarquização das raças humanas a partir das medidas do crânio. O determinismo biológico relacionado a antropologia criminal, de acordo com as análises da anatomia humana do início deste século, também é tratado com profundidade pelo autor. Um dos temas mais polêmicos discutidos por Gould esta relacionado ao Quociente de Inteligência e os testes aplicados para a determinação do mesmo, bem como a suposta hereditariedade desta abstrata característica. Ainda com relação aos famosos testes de Q.I., o autor analisa o famoso caso do psicólogo Sir Cyril Burt, que, entre outras coisas, forjou dados e personagens para validar suas hipóteses. Gould finaliza o livro, fazendo uma reflexão positiva deste seu estudo sobre o determinismo biológico. Todos os temas foram escritos numa linguagem muito rica, com diversas citações das personalidades envolvidas e ilustrações bem esclarecedoras, sempre dentro do contexto histórico de então, o que torna a leitura agradável e muito interessante. Esta é a característica principal das obras de Gould, considerado dos mais importantes evolucionistas atuais e grande divulgador da ciência.
Fazendo uma breve consideração a respeito de tema tão polêmico, não podemos deixar de lembrar o quanto as idéias que permeiam o determinismo biológico ainda estão presentes na historia contemporânea. É estarrecedor notarmos a que ponto chegou sua aplicação, manchando a história da humanidade por quase todo este século que termina. Os terríveis programas de limpeza étnica e de esterilização de pessoas consideradas abaixo do padrão "normal", realizados por países como Estados Unidos, Alemanha, Turquia, União Soviética e Dinamarca, na primeira metade deste século, e Iugoslávia, mais recentemente. Comportamentos racistas extremos, surgidos há duas décadas, tanto na Europa como nos Estados Unidos. A terrível política do apartheid, na África do Sul, bem como, muitas outras questões relacionadas a perseguição de minorias. Enfim, todos estes exemplos se enquadram no contexto do determinismo biológico.
A leitura atenta deste livro, portanto, poderá fornecer uma compreensão histórica sobre assunto, necessária para a formação de uma sociedade mais pluralista e livre de preconceitos.
Antonio Carlos Bandouk
e-mail: acbandouk@hotmail.com