Costa do Marfim
O que está em jogo?
Poder.
Laurent Gbagbo se recusou a deixar o cargo de presidente
mesmo com a ONU, que ajudou a organizar as eleições de novembro, tendo afirmado
que ele perdeu e Alassane Ouattara foi o vencedor.
Gbagbo acusou a França, país que colonizou a Costa do
Marfim, de tentar usar sua influencia na ONU para tirá-lo do poder e ter
vantagens econômicas, mas os argumentos não foram aceitos.
Analistas dizem que raramente viram unanimidade como a
observada na comunidade internacional após as eleições. União Africana (UA),
ONU e o organismo dos países da África ocidental, Ecowas, pediram pela saída de
Gbagbo e impuseram sanções para forçar a transferência de poder.
A UA deu um prazo até 24 de março para a saída de Gbagbo, o
que não foi respeitado. Poucos dias depois, forças de Outtara, vindas do norte
do país, entraram na cidade de Abidjan.
Qual o nível de
violência das batalhas?
É difícil dizer já que a maioria ocorreu em áreas remotas,
mas o rápido avanço das tropas pró-Outtara sugere que ocorreu pouca resistência
Ocorreram, no entanto, vários choques violentos e assassinatos em Abidjan nos
últimos três meses.
A ONU acusou as forças de Gbagbo de atacar áreas
consideradas simpatizantes de Outtara. Um grupo pró-Outtara em Abidjan é
acusado de assassinar simpatizantes de Gbagbo. A ONU diz que quase 500 pessoas
foram mortas e um milhão teriam sido obrigados a deixar suas casas. Muitos têm
pouco acesso a comida ou abrigo e vêm vivendo em situação precária.
Foto: Alassane Ouattara
O que acontece agora?
No momento, parece que os dias de Gbagbo no poder estão
contados. A dúvida é se ele tentará manter Abidjan, resultando em um grande
número de mortes, ou se fugirá antes.
O Tribunal Internacional Penal analisa a possibilidade de
que tenham ocorrido crimes contra a humanidade, portanto Gbagbo pode evitar
fugir para algum país ocidental de onde seria extraditado, tendendo a
permanecer em algum africano.
Ele sempre foi aliado próximo do presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos e analistas acreditam que o país poderia ser um destino
natural.
Qual o pano de fundo?
Há uma década, a Costa do Marfim, era considerado um país
pacífico e próspero da África ocidental. Mas a nação sempre teve profundas
divisões étnicas, religiosas e econômicas.
Sua indústria de cacau proporcionava um padrão de vida
melhor do que em outros países africanos, portanto imigrantes de alguns dos
países mais pobres do mundo, como Mali e Burkina Faso, foram atraídos para lá.
Alguns desses imigrantes compartilhavam laços étnicos com
habitantes do norte da Costa do Marfim, incluindo o islamismo. Muitos dos
habitantes do sul, estimulados por políticos populistas, passaram a se
ressentir dos estrangeiros e dos moradores do norte.
Qual foi a reação dos
habitantes do norte?
Eles reclamaram de discriminação. O muçulmano Outtara foi
impedido de concorrer em eleições presidenciais anteriores sob a alegação de
que seus pais teriam vindo de Burkina Faso, mesmo ele tendo sido premiê no passado.
Muitos habitantes do norte tinham ainda grandes dificuldades
em conseguir documentos de identidade ou o direito ao voto. Em 2002, alguns
soldados do norte do país abandonaram o Exército e marcharam rumo a Abidjan.
Eles estavam prestes a tomar o país quando foram impedidos por soldados
franceses e cerca de nove mil tropas de paz da ONU.
O país foi então dividido entre norte e o sul, divisão que
as eleições deveriam sepultar. Mas o pleito acentuou as divisões, embora pareça
que estas devam chegar ao fim em breve.